ATA DA NONA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 23.04.1998.

 


Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a passagem dos Cinqüenta Anos de Fundação do "35 CTG", nos termos do Requerimento nº 05/98 (Processo nº 72/98), de autoria do Vereador Lauro Hagemann. Compuseram a MESA: o Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Ivo Benfatto, Patrão do 35 CTG; o Senhor Antonio Augusto Fagundes, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradições e Folclore; o Senhor Dirceu Brizola, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; o Major Joerte Paulo Angheben, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; o Senhor Zeli Corrêa de Moraes, representante da Reitoria da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; a Senhora Fátima Regina Brizola, representante da Secretaria de Estado da Educação/RS; o Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário deste Legislativo. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças dos Senhores Guilherme Flores da Cunha Correa  e  Paulo Godim, fundadores do 35 CTG; dos Senhores José Roberto Moraes e Rudi Pedro Borguete, Diretores do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF; do Senhor Davison Labrea, Presidente do Conselho de Vaqueanos; do Senhor Valdir Secchi, Coordenador da 1ª Região Tradicionalista; do Grupo Juvenil de Danças Tradicionais do 35 CTG. Também, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Ervino Besson, ex-Vereador desta Casa. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos  para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PPS, PTB, PMDB e PSB, historiou sobre o nascimento do Movimento Tradicionalista Gaúcho e, ao saudar os fundadores do 35 CTG, ressaltou a responsabilidade destes ao estabelecerem bases de uma cultura em construção, transportando-a às próximas gerações. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, afirmou ser o culto à tradição em nosso Estado um reflexo do idealismo e amor ao Rio Grande do Sul, agradecendo a todos que colaboram para a preservação de nossa história e cultura. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PDT, teceu considerações acerca do surgimento do tradicionalismo e prestou sua homenagem pelos relevantes serviços prestados pelo 35 CTG à cultura gaúcha e à  Cidade de Porto Alegre. O Vereador José Valdir, em nome da Bancada do PT, salientando que o patrimônio cultural de nosso Estado é uma das mais ricas manifestações culturais do  País, declarou  ser  o resgate da história do movimento tradicionalista gaúcho o próprio resgate da história  do  35 CTG.  Ainda,  procedeu  à  leitura  do  poema "Mateando no Terceiro Milênio", de sua autoria. A Vereadora Anamaria Negroni, em nome da Bancada do PSDB, discorreu sobre a importância do 35 CTG na história do Rio Grande do Sul, como marco inconfundível da cultura e tradição gaúcha. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, afirmou ser a cidade de Porto Alegre  a  sede  do  movimento  tradicionalista  gaúcho,  por isso a  justeza  da presente homenagem aos fundadores do 35 CTG e aos que contribuíram no resgate de ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Após, foi realizada apresentação do Grupo Juvenil de Danças Tradicionais do 35 CTG. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Ivo Benfatto que, em nome do 35 CTG, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Riograndense, interpretado pela Cantora Marlene Pastro, e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e trinta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol. Do que eu, Reginaldo Pujol, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz):  Esta Sessão Solene é destinada a homenagear a passagem dos 50 anos de Fundação do 35 CTG, de acordo com o Requerimento nº 05, Processo nº 72/98, de autoria do Ver. Lauro Hagemann.

Convidamos para fazer parte da Mesa Diretora o Sr. Ivo Benfatto, Patrão do “35” CTG; Sr. Nico Fagundes, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradições e Folclore; Sr. Dirceu Brizola, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; Major Joerte Paulo Angheben, representante do Comando Geral da Brigada Militar; Sr. Zeli Corrêa de Moraes, representante da Reitoria da PUC; Sra. Fátima Regina Brizola, representante da Secretaria do Estado da Educação.

Convidamos os presentes para, em pé,  cantarmos o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)   

 

O SR. PRESIDENTE: Para mim, que venho de outras paragens, é um motivo de muito orgulho estar aqui presidindo, hoje, a Câmara de Vereadores e, ao mesmo tempo, esta Sessão, que foi solicitada pelo Ver. Lauro Hagemann, que visa prestar uma homenagem a um dos grandes símbolos tradicionalistas que temos aqui no nosso Rio Grande do Sul.

Esse tradicionalismo que, sem dúvida nenhuma, é o mais lindo que temos em todo o nosso País. Realmente, é um motivo de muito orgulho para mim, hoje, estar aqui nesta situação, juntamente a todos os senhores.

O primeiro a usar da palavra é o Ver. Lauro Hagemann, como proponente, pela Bancada do PPS e também pelas Bancadas do PTB, PMDB e PSB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Prezado e Exmo. Ver. Luiz Braz, Presidente da Câmara e desta Sessão, prezado Major Joerte Paulo Angheben, representando o Comando-Geral da Brigada Militar; prezada Sra. Fátima Regina Brizola, representante da Secretaria de Estado da Educação; prezado Dr. Prof. Zeli Corrêa de Moraes, representando a Reitoria da PUC; meus prezados tradicionalistas, Ivo Benfato, Patrão do “35”; Dirceu Brizola, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; Antônio Augusto Fagundes, meu companheiro de lides de comunicação, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradições e Folclore; ilustres tradicionalistas aqui presentes; ex-patrões do “35”, Vereadores; Vereadoras; Senhoras e Senhores. Muitos dentre os Senhores, deverão estar se perguntando por que eu, um povoeiro, descendente de alemães, pouco envolvido com o mundo tradicionalista, me atrevi a solicitar esta Sessão Solene em homenagem ao cinqüentenário do “35” - Centro de Tradições Gaúchas. Mas é como homem do meu tempo, inserido nessa mescla de raças que estão tentando formar um conceito étnico multifacetado, e ainda longinquamente, pela tradição familiar oral, por desconfiar de “ter um pé” de minha ancestralidade na Aldeia de São Nicolau, a de Rio Pardo, que ouso me dirigir aos tradicionalistas aqui presentes e os que estejam nos ouvindo e vendo, através da TV Câmara, para dizer que me sinto muito à vontade para falar nesta Sessão Solene. O cinqüentenário do 35 Centro de Tradições Gaúchas, que transcorre amanhã, dia 24, transcende os limites de Porto Alegre; transcende os limites do Estado, e transcende, até mesmo, os limites do País.

O 35, que nasceu ali no Colégio Estadual Júlio de Castilhos - onde eu também estudei - saiu campo afora e se derramou pelas coxilhas e por vários recantos do mundo, os mais insuspeitos. Hoje são quase três mil CTGs espalhados pelo mundo todo. Este movimento nasceu aqui em Porto Alegre, e essa era uma razão muito especial para que eu, como homem público, representando parte da sociedade de Porto Alegre, nesta Câmara Municipal, sentisse uma obrigação de registrar esse evento.

Eu não quero falar apenas dos aspectos exteriores do cetegismo. Uma palavra nova, que hoje consta dos dicionários. Cetegismo representa aquele que está envolvido com CTG, o Centro de Tradições  Gaúchas.  Impiedosamente alguns críticos alegam que ele se desviou e que está alicerçado em bases irreais. Os eventuais desvios ocorridos com o cetegismo são inerentes à condição humana, e este não será o momento nem a hora de se fazer  um exame crítico dessas assertivas. O que mais se destaca em nosso meio, em termos de cetegismo, de tradicionalismo, é o fator telúrico desse movimento. Afinal, temos a necessidade de cantar esta parte do mundo que é o nosso habitat. Aqui se desenvolve um tipo de vida diferente de outras regiões do País. Algumas regiões do mundo já se tornaram célebres por terem sido cantadas por seus poetas, por seus escritores, por seus filhos. Ainda estamos percorrendo e, principalmente, pesquisando este caminho.

Por isso, gostaria de, despretensiosamente, inserir um outro enfoque, lembrando a responsabilidade do tradicionalismo num mundo em transformação como o nosso. Aqui, nesta região, e quero, principalmente, referir-me ao pampa, pedaço do mundo que  inclui, além do Rio Grande, nossos irmãos argentinos, uruguaios e parte do Paraguai, habita uma sociedade cuja fisionomia multirracial e multifacetada, que ainda irá se alterar, na velocidade com que o mundo se desenvolve, com que as relações humanas se entrelaçam; e, como os laços econômicos que unem os povos destes países se estreitam, o mundo do pampa terá, no futuro, uma etnia diferente. As modernas fronteiras políticas cederão seu lugar às fronteiras naturais e, sob esse aspecto, não tenho dúvidas de que, não sei em quanto tempo, esta parte do mundo há de se constituir em uma pátria comum. Alerto já que não sou advogado do separatismo. O separatismo não tem sentido para mim dada a minha origem partidária, pois sempre nos comportamos como universalistas, mas há características locais de determinadas regiões como um processo natural de universalidade. E é em torno dessa diversalidade de relações e de concepções que a sociedade humana irá se reunir.

É nesse contexto que entendo o quão importante é o movimento tradicionalista, nascido há 50 anos, cuja grande tarefa é preparar-se para este mundo futuro. Sobretudo, tendo em mente que para os milhões de seres humanos que irão  habitar essa região, a tradição, a cultura local será de suma importância para que todos possam compreender de onde vieram e para onde pretendem ir. As tradições de um povo têm um poder surpreendente sobre a evolução histórica das comunidades, é como se fora um trampolim, para entrarmos no futuro, e nós não estamos muito longe dele, está logo ali, na volta do ano 2000 estaremos entrando no 3º Milênio. Existe uma força telúrica embalando esta noção de cidadania que nós temos aqui. Mesmo os descendentes daqueles que vieram de outras plagas, como eu, têm a noção exata de que aqui a natureza embala o sonho de fraternidade do homem e o abraça carinhosamente. E é este conluio entre o homem e natureza que nos anima a continuar lutando pelos ideais desse movimento, há 50 anos.

Minhas palavras finais deste despretensioso discurso são dedicadas ao futuro deste movimento. E, para isso, devo fazer uma menção muito especial ao grupo original que criou o “35”. É claro que muitos oradores vão-se utilizar destes dados para que sejam compostos os discursos de saudação, mas, por dever de fidelidade histórica e respeito, eu quero declinar aqui os nomes dos fundadores do “35”. Não são muitos. Muitos deles ainda vivos. Muitos deles meu amigos. São eles, na ordem alfabética: Antônio Cândido da Silva Neto, Carlos Godinho Correa, Cyro Dutra Ferreira, Dirceu Tito Lopes, Flávio José Dann, Flávio Ramos, Francisco Gomes de Oliveira, Gláucus Saraiva da Fonseca, Guilherme da Cunha Correa, Hélio Gomes Leal, Hélio José Moro, João Emílio Marroni Dutra, José Laerte Veira Simch, Luiz Carlos Barbosa Lessa, Luiz Carlos Correa da Silva, Luiz Osório Chagas, Ney Ortiz Borges, Paulo Caminha, Paulo Correa, Robes Pinto da Silva, Valdês Correa, Venerendo Vargas da Silveira, Waldomiro Souza e Wilmar Winck de Souza. Cito ainda, especialmente a figura impar de Paixão Cortes que não está nesta relação por um acidente histórico da feitura da ata. Devo registrar também que várias tentativas anteriores foram feitas. Muitos anos antes do  “35” outros Centros tentaram se organizar em torno dessa idéia que acabou vingando a partir, oficialmente, do dia 24 de abril de 1948. Estamos há exatamente 50 anos deste que foi o primeiro fato concreto que estabeleceu as bases do movimento. Portanto, ainda distantes de uma análise mais profunda. Precisamos estudar sociológica e antropologicamente este fato mas, convenhamos, esse breve discurso não será o lugar adequado para se fazer essa profunda reflexão, isso exige estudo e pesquisa. Exige tempo. Mas uma coisa posso afirmar: a razão do tradicionalismo não está, paradoxalmente, no passado e, sim, no futuro. Eis a importância do movimento. Estabelecer as bases de uma cultura em construção e transportá-la, através dos tempos, para que as próximas gerações não percam o norte de sua civilização. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Registramos a presença do Ver. Reginaldo Pujol,  Ver. Elói Guimarães, ex-Vereador Ervino Besson, Ver. João Carlos Nedel, Ver. Pedro  Américo Leal, Vera. Anamaria Negroni, Ver. José Valdir e Ver. Lauro Hagemann como proponente desta homenagem. Anunciamos a extensão da Mesa e queremos cumprimentar os fundadores do “CTG 35” Sr. Guilherme Flores da Cunha Correa e Sr. Paulo Godim;  Diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore Sr. José Roberto Moraes; Presidente do Conselho de Vaqueanos Sr. Davison Labrea;  Coordenador da 1ª Região Tradicionalista Sr. Valdir Secchi; Diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore Sr. Rudi Pedro Borguete; Grupo Juvenil de Danças Tradicionais do 35 CTG

Está com a palavra o Ver. João Carlos Nedel.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: (Cumprimenta os componentes da Mesa.) Gaúchos e gaúchas do nosso Rio Grande, Senhoras e Senhores. O Rio Grande ocupou o Brasil com seus usos e costumes e seu culto à tradição e ostenta, hoje, orgulhoso, a condição de Estado em que mais se desenvolveram o folclore, a tradição e a cultura da região. De norte a sul do Brasil, ao gaúcho de hoje, é comum sentir-se à vontade, completamente em casa ao freqüentar um centro de tradições gaúchas, concebido e criado ao melhor estilo do Rio Grande do Sul com direito a usufruir todo um mundo de coisas das quais tem saudades ao se afastar do pago. A Bandeira do Rio Grande, em nossos dias, emparelha-se airosa e sobranceira à Bandeira Nacional nos mastros  em frente dos prédios nas datas festivas, mas também se faz presente com o mesmo brilho e com o mesmo orgulho nas vitrines, nos pára-choques de automóveis e caminhões e de modo muito especial no peito de cada gaúcho, em cada coração farroupilha. Mas não foi sempre assim. Houve um tempo, que não está muito longe, em que ser gaúcho, de bota e bombacha, era sinônimo de ser grosso, inculto, motivo de piada e de riso, evidente falta de respeito por parte de quem não nos conhecia de fato. Chimarrão, era só para pessoal lá de fora, do interior do Estado; a música campeira era considerada primitiva e desagradável ao ouvido dos sensíveis citadinos. Os próprios gaúchos, algumas vezes, envergonhavam-se de sua origem campeira. E pior de tudo, estavam perdendo um vínculo com o passado, desconhecendo os hábitos, vestimentas, costumes e tradições, dos quais a noção que tinham era através de uma história, nem sempre bem contada.

E se hoje a bombacha é considera vestimenta oficial do Estado; se os festivais de música campeira se multiplicam e geram incontáveis e inegáveis sucessos de públicos e vendagem de discos no Brasil inteiro; se o chimarrão se tornou natural mesmo entre os jovens nascidos e criados nas grandes cidades e, principalmente, se o folclore, a cultura do Rio Grande do Sul, alcançaram níveis de reconhecimento, aceitação, respeito e admiração, inclusive no plano internacional, isso não foi meramente obra do acaso. Foi o movimento gerado pelo idealismo, pela visão e pelo amor ao Rio Grande, presente no coração e mente de oito ousados jovens interioranos que desencadeou, de um modo irreversível, esse processo de desenvolvimento cultural, tipicamente gaúcho, que hoje orgulha a todos os rio-grandenses e que deu ao Brasil elementos e motivos de reafirmação e preservação culturais e históricas.

Não tenho a menor dúvida ao afirmar que a criação do “35 CTG” foi o marco inicial, o ponto de partida dessa grande caminhada que amanhã, dia 24, para nossa grande alegria, completa 50 anos e a de se tornar muitas vezes secular, se Deus Nosso Senhor quiser. Um homem do interior do Estado, natural da minha São Luís Gonzaga, afeiçoado a minha terra e ao Rio Grande, sinto-me mais patriota quando me sinto mais gaúcho. E me sinto cada vez mais gaúcho quando tenho a chance de viver e reviver em sintonia perfeita com a história e a cultura, próprias da nossa terra, preservadas e desenvolvidas graças ao entusiasmo, à pertinácia e à vontade indomável, quase heróica dos oito pioneiros do “35”, cujos nomes gostaria de lembrar: Paixão Cortes, Cyro Dutra Ferreira, Fernando Machado Vieira, Antônio João Sá de Siqueira, Cilço Araújo Campos, Ciro Dias da Costa, João Machado Vieira, Orlando Jorge Degrazia. Também não poderia omitir os nomes de Glaucus Saraiva, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Antônio Augusto Fagundes, verdadeiros codificadores desse Movimento. É por isso que, ao saudar os 50 anos do “35 Centro de Tradições Gaúchas”, em nome da Bancada do Partido Progressista Brasileiro, PPB, também dos Vereadores, meus companheiros, Ver. João Antônio Dib, que foi colega de aula no Julinho de fundadores do “35”; do carioca, Pedro Américo Leal, gaúcho por opção e por coração idealizador do Galpão Crioulo do Palácio Piratini e que, como Deputado, sugeriu e viu concretizada a criação do cargo de Primeiro Assessor Cultural Tradicionalista do Governo do Estado; Glauco Saraiva. E agradecer àqueles que deram início a essa gloriosa jornada, somando aos seus nomes o de todos aqueles que lhe deram seqüência com igual entusiasmo e convicção. Pelo verdadeiro legado histórico que deixaram ao Rio Grande e ao Brasil.

O ilustre Vereador Lauro Hagemann é merecedor de nossos mais efusivos cumprimentos pela iniciativa de realização da homenagem que hoje esta Casa presta ao “35”, homenagem esta tanto necessária quanto justa e merecida.

Gostaria de encerrar esta participação, lembrando o pronunciamento feito pelo saudoso Manoelito de Ornelas, na oportunidade da fundação do “35”.

E dizia Manoelito:

“É preciso salvar o velho bronze! Para que tudo não se perca, para que o evangelho da altivez, da lealdade e da bravura, que aprendemos a rezar, não se disperse, folha por folha, ao capricho dos ventos boêmios. É necessário que se vistam, de quando em vez, as velhas bombachas. É preciso que se comprima de novo, ao queixo, a borla do barbicacho. Que se encha de água quente aquela cuia que sempre foi um símbolo de fraternidade. E que se reaprenda a lição que ficou no fundo misterioso da história.”

Parabéns 35. Obrigado por ter deixado o Rio Grande maior e mais gaúcho. Parabéns.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Pela Bancada do PDT está com a palavra o Ver. Elói Guimarães.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: (Saúda os componentes da Mesa.) Senhores Vereadores,  Senhores tradicionalistas, poetas, escritores aqui presentes, peões, mirins, prendas, prendinhas, enfim, aqui tantos nomes significativos da cultura gaúcha, um dos fundadores do “CTG 35”, ex-Vereador desta Casa, ex-Deputado Federal Nei Ortiz Borges. Enfim, tantos amigos, tantas figuras notáveis do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

O autor da proposição, eminente Ver. Lauro Hagemann, fazia “en passant”, “a despacito”, um certo questionamento no que se refere às suas origens germânicas, e também tocava na questão ligada ao separatismo. Diria, meu caríssimo Ver. Lauro Hagemann, e diria também ao Presidente da Casa, que é um paulista, ao Ver. Pedro Américo Leal, carioca, que o gauchismo é um estado de espírito. Há tanto açulamos todo este complexo de princípios, regras, costumes, que constituem isto que chamamos de o gauchismo, de tradicionalismo. O tradicionalismo é uma idéia, um movimento. Ele não é  uma cultura que se cristalizou no tempo. Tanto é verdade que ele incorpora todos esses valores que configuram esse homem do pampa gaúcho, do Rio Grande. Essa denominação de gaúcho incorporou todo um conjunto de fatores telúricos, emocionais, geográficos, de costumes. A nossa disposição de luta foi um fator que demarcou, ao longo da história brasileira, as fronteiras da extremadura do Brasil. Esses valores bravios foram incorporados por esta cultura tradicionalista. Isso está dentro da nossa alma, é um fenômeno que constitui a biotipologia do gaúcho, isto é a sua lealdade, o seu companheirismo, o seu amor telúrico ao chão, à lagoa, ao galpão, ao seu cavalo e às coisas mais comuns. Todos esses fatores, elementos e componentes integraram o que nós chamamos de cultura gaúcha e podem ser assimilados por brasileiros de outros rincões, bastando, para tanto, que se assuma esta carga de valores morais, éticos e espirituais.

Mas hoje estamos homenageando, aqui, o “35”. O “35” foi o sinuelo -  ele entropilhou, nesta sua caminhada, os demais CTGs - fundado, exatamente, há 50 anos. Ele, historicamente, sucede aquele grande movimento que foi feito em Porto Alegre, a “Chama Crioula”. E os fundadores,    citados, que foram aqueles estudantes do Júlio de Castilhos que, num determinado dia, montaram os seus pingos, colocaram as suas pilchas e saíram, em Porto Alegre, fazendo uma verdadeira cavalgada. Buscaram a centelha da Pátria e acenderam o candeeiro de 35, com a Chama Crioula. A partir daí, se funda o “35” e nasce também o Movimento Tradicionalista Gaúcho, que se constitui numa cultura  que, daqui a 1000 anos, se arrasarem todas as culturas, oxalá, e acredito que sim, nós encontraremos os traços da cultura do gaúcho, o tradicionalismo.

Eu, quando ando nos rodeios, pelos galpões, muito me alegra ver os jovens, as crianças. Então, de uma coisa nós, tradicionalistas, temos certeza, o jovem, a criança, a prendinha, o piá, entraram no Movimento Tradicionalista Gaúcho. Significa dizer que ele vai ter vida longa, e a queremos eterna, porque é exatamente uma cultura com traços marcadamente significativos que envolvem um conjunto. É um estado de espírito, é uma maneira de o homem proceder, “gauchisticamente”.

Nós procedemos “gauchisticamente”, nós temos, todos esses fatores externos que constituem a nossa própria formação e razão de ser; está embutido nas nossas veias, no nosso coração, na nossa alma, isso que chamamos: gaúcho.

E não sei, Nico, quem disse com uma propriedade monumental: “Eu sou gaúcho e me basta”. Tal o complexo fenomenal que isso representa.

Então, nesta tarde memorável, estamos comemorando aqui, a Casa está homenageando os 50 anos, vejam bem, do “CTG 35”. A partir dele, vieram, nas suas águas, no laço, nos tentos do “35”, os demais CTGs. E existem CTGs no mundo todo. É a maior embaixada que temos. Infelizmente ainda não descobrimos bem o tradicionalismo; essa força telúrica humana, social e política que carrega o Movimento Tradicionalista Gaúcho. Não temos melhor embaixada do que o tradicionalismo, espalhado pelos galpões do mundo. Qual é a cultura que tem isso? Qual é a cultura que assentou bandeiras da forma como fez o Movimento Tradicionalista Gaúcho? Nós somos uma cultura com traços marcadamente claros.

Esta é uma tarde extremamente importante para a Cidade e para o Estado, porque estamos homenageando a cultura gaúcha.

Quero lembrar que David Canabarro, na minha opinião, dá a grande resposta àqueles que nos acusam de separatistas, porque o tradicionalismo, o gauchismo absorve os valores éticos e morais guerreiros de 35. Quando, em 35 a David Canabarro, com as tropas farrapas já batidas - o Ditador Rosas oferecia armas, ele respondia que o primeiro soldado castelhano que atravessasse a fronteira teria, com o sangue dele, assinada a paz com os imperiais. Isso para mim é a demonstração mais forte, mais vibrante do que somos, efetivamente: integracionistas. Aliás, folhemos a história e veremos que nós, gaúchos, não somos brasileiros por acidente geográfico; não somos brasileiros pela manha da diplomacia; nós somos brasileiros, porque os nossos ancestrais, no lombo do pingo, de espada na mão, marcaram as fronteiras meridionais da pátria comum.

Fica aqui esta homenagem ao “CTG 35”. Ele que é o grande sinuelo dessa caminhada, dessa cavalgada, que haverá de varar os séculos e chegar para gerações futuras cada vez mais vigoroso, porque tradicionalismo, gauchismo, para não dizer gaúcho, é aquela filosofia que absorve das nossas tradições dos nossos costumes, da nossa alma, todos esses valores. Então nós haveremos de chegar lá na frente, decorrido o tempo, como alguém que absorveu todos esses fatores e demarcou de forma cultural, humana todo um passado de glórias. Fica, portanto, aqui, a homenagem do PDT ao “CTG 35” que relevantes serviços presta à cultura gaúcha, relevantes serviços presta de resto ao Estado, a nossa Cidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. José Valdir está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Tradicionalistas e demais participantes desta homenagem, o patrimônio cultural do nosso Estado é uma das mais ricas e vibrantes manifestações culturais regionais desta “pátria-continente”, que é o nosso País. Essa afirmação não é um bairrismo ou uma patriotada, como poderia se pensar; é uma constatação real e concreta. Inobstante a existência de alguns valores questionáveis, sobretudo com relação à questão da mulher, é inegável a força de elementos da maior significação humana e ética na nossa tradição histórico-cultural. A cultura do nosso Estado é, talvez, a cultura regional que mais assimilou e desenvolveu o sentido da liberdade, da hospitalidade e da lealdade como valores éticos universais, como referiu o Ver. Elói Guimarães. Por outro lado, é, talvez, a cultura mais diversificada. A cultura gaúcha, do homem dos pampas, tem a forte influência da cultura africana - bem maior até do que se imaginava há algum tempo -, da cultura italiana, alemã, polonesa. Essa diversidade é um processo rico e permanente de caldeamento cultural.

O meu Partido, o Partido dos Trabalhadores - há que se fazer essa autocrítica -, custou a compreender isso. Desde o início do ano passado, no entanto, começamos um movimento interno de reversão dessa situação com a criação do Núcleo de Nativistas e Tradicionalistas do PT, do qual tenho a honra de ser um dos fundadores. Além do debate interno sobre os aspectos culturais da nossa história - e muitos desses aspectos têm a ver com as propostas políticas que nós defendemos, como  os valores que há pouco referi -,  a aproximação com o MTG, CTGs e piquetes se impõem. E, para a minha felicidade, isso já começou a acontecer com a participação do nosso Núcleo no acampamento da Semana Farroupilha no Parque Harmonia. A afirmação da cultura regional para mim é particularmente importante neste momento em que um tipo de globalização impiedosa,  niilista e eu diria até selvagem tenta impor a idéia, para o mundo inteiro, do pensamento único sobre os escombros das culturas nacionais, regionais, a aniquilação e o desrespeito  à diversidade cultural dos povos. 

Por isso, esta nossa homenagem ao “35 - Centro de Tradições Gaúchas” nos é particularmente oportuna e importante. A força do movimento tradicionalista, hoje,  como  manifestação concreta dessa cultura regional, é um fato concreto. A força desse movimento faz com que os CTGs se esparramem pelos campos e cidades, até mesmo fora do nosso Estado, pois o gaúcho, por mais desgarrado da querência, não se desprende das suas raízes e do seu pago. Essa força telúrica se manifesta na música, na dança, na poesia, na culinária, na fala, na maneira de pensar e de ser. Está no sangue, na alma de nós todos. Às vezes, só descobrimos isso, em profundidade, ao atravessarmos o Mampituba depois de alguns meses fora do pago. Aí é que vamos compreender a força que têm as nossas raízes culturais. Pois muito desse resgate deve-se à iniciativa de um grupo de estudantes do Colégio Júlio de Castilhos, preocupados com o estado de esquecimento em que se encontravam as tradições do Rio Grande do Sul e que, em 24 de abril de 1948, fundaram o “35 - Centro das Tradições Gaúchas”. 

No dizer de Cyro Dutra Ferreira, em artigo publicado na Revista Cacimba, a fundação do “35” foi o passo inicial para a formação e a concretização definitiva do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Por isso, resgatar a história do “35” é, em boa parte, resgatar o próprio Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Só podemos concluir este pronunciamento, dando os nossos parabéns ao “35” pelos seus cinqüenta anos, especialmente pela gigantesca tarefa histórica que tem desempenhado no resgate das nossas raízes, que é a nossa razão de ser.

Já que o Lauro falou em terceiro milênio, falou em futuro, o Elói falou em mil anos, eu, modestamente, quero ler um poeminha curto que fiz, que se chama “Mateando no Terceiro Milênio”,  e o ofereço, de todo coração, ao CTG 35:

“Mateando no 3º Milênio

Dou asas à imaginação / No meu matear matutino / Qual vivente teatino / Lembro guerras e entreveros / Desse meu povo guerreiro / Dos campos e da cidade / Me custa crer que é verdade / Neste milênio moribundo / Que ainda há gente no mundo / Com fome e sem liberdade / Imagino um mundo novo / Livre de ódio, irmanado / Sem cancela ou aramado / Somando as diferenças / De sexo, raças e crenças / Sem miséria e opressão / A cuia de mão em mão / A milonga bordoneada / E a humanidade achegada / Na roda de chimarrão”.

 

(Não  revisto pelo orador.) 

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Anamaria Negroni está com a palavra e falará pelo PSDB.

 

A SRA. ANAMARIA NEGRONI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais autoridades presentes.)  Eu gostaria de dizer que esqueceram de mim. Falaram aqui de outros Vereadores nascidos em outras paragens e esqueceram desta Vereadora, que é uma gaúcha de coração. É isso eu digo, porque já estou tão “agauchada” que me esqueceram. Afinal, eu já estou há 23 anos aqui no Rio Grande do Sul. É bastante tempo e eu, realmente, me sinto muito feliz aqui no Estado.

Mas falo, nesta oportunidade, em meu nome e também em nome de meus companheiros de Bancada - do Ver. Antonio Hohlfeldt, nosso Líder, e do Ver. Cláudio Sebenelo -, em nome do meu Partido, o Partido da Social Democracia Brasileira.

Porto Alegre, para mim, hoje, é o meu lar, e os gaúchos são, sem dúvida, meus irmãos de coração. Acredito que os gaúchos provaram que a recíproca é verdadeira, pois me escolheram como sua representante nesta Casa.

A homenagem que faço, prestando saudações aos 50 anos do “35 CTG”, reflete, certamente, o sentimento de toda a população que aqui representamos. O sentimento de todos aqueles que aprenderam a cultuar nossas tradições a partir dos ensinamentos que receberam dos pioneiros tradicionalistas de nosso Estado. Hoje, quando comemoramos o cinqüentenário do nosso querido “35 CTG”, lembramos um pouco da história daqueles jovens gaúchos, quase todos vindos do interior e que, na Capital, naquela época, sofriam com o deboche dos que não sabiam entender suas bombachas, botas e chapéus de abas largas.

Como esquecer, nesta homenagem, o grande símbolo do “35”, personificado na figura de Antônio Carinde, ao buscar inspiração para a sua obra inconfundível, encontrou, nos traços marcantes do gaúcho Paixão Cortes, a imagem do Laçador, símbolo de nossa Cidade, cartão postal de nossa terra. E, como Paixão Cortes, tantos outros fizeram e fazem a história do “35”. Como esquecer, neste momento, homens que ajudaram a retomada do tradicionalismo  nos galpões que abrigaram nosso mais querido Centro de Tradições? Como esquecer o amor telúrico de Glauco Saraiva pelas coisas de nosso Rio Grande? Como não lembrar dos versos de Lauro Rodrigues, dos poemas declamados por Darci Fagundes, das melodias maravilhosas de seu parceiro Luiz Menezes? E dos patrões, os queridos Antônio Augusto Fagundes e Vilmar Romera - para citar apenas dois entre tantos gaúchos que fizeram a história do “35”? Mesmo para quem, como eu, não nasceu neste solo, não há como ficar indiferente à história desse marco inconfundível da cultura e mais pura tradição gaúcha. O “35” é tão importante para a história do Rio Grande do Sul que hoje, passados 50 anos de sua fundação, podemos afirmar que não há um lugar neste Brasil onde não se encontre um galpão, por mais humilde que seja, e que nele não esteja cravada a lança da tradição, marcada pela bandeira de um CTG. Tanto é verdade, que hoje eles são mais de 2 mil espalhados pelo Brasil - e temos notícias de que atravessaram as fronteiras nacionais, alcançando, inclusive, os Estados Unidos e outros países.

Ao encerrar, quero deixar meu abraço tucano, como se fosse o quero-quero, alerta em todas as coxilhas, guardião desta terra, cuja tradição revive e se confunde com a história dos 50 anos do “Centro de Tradições Gaúchas 35”. Portanto, Sr. Ivo Benfatto, receba e leve tal abraço a todos os tradicionalistas gaúchos e, em especial, à Diretoria e aos tradicionalistas do nosso querido “CTG 35”. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: (Saúda os componentes da Mesa.) Por óbvio que festejar o cinqüentenário do “35”, o nosso Centro de Tradições Gaúchas, pioneiro, é uma festa para o Legislativo da Cidade, eis que, naturalmente, tendo sido Porto Alegre o lugar onde tomou corpo esse movimento, que hoje espalha-se por todos os quadrantes do território brasileiro, de resgate da cultura de 35, das gloriosas tradição dos Farrapos, sendo Porto Alegre a sede de tão significativo movimento é lógico, é natural, é conseqüente, que o Legislativo desta Cidade, que tem a marcar a sua história tão glorioso acontecimento, promovesse, como efetivamente promove hoje, com todas as galas, esta Sessão Solene destinada a gizar, assinalar, confirmar e reafirmar a importância histórica para o tradicionalismo do Rio Grande, decorrente da fundação, em 48, do Centro de Tradições Gaúchas “35”, o nosso pioneiro.

Pessoalmente, sendo o derradeiro orador nesta festividade, tenho que ter extremo cuidado para não me tornar repetitivo, na medida em que, por enfoques diversificados, ilustres Vereadores, a começar pelo Ver. Lauro Hagemann, já enfocaram o fato e o fizeram com notável brilho e grande sabedoria. Inobstante, sendo esta Casa uma Casa plural, onde têm assento todas as correntes de opiniões públicas, que aqui são representadas, sendo eu o único liberal assumido nesta Casa, não tinha como, mesmo reconhecendo a timidez do meu pronunciamento e sobretudo as limitações da minha interferência nesta homenagem, de me calar neste momento.

Aliás, quando ouvi Paulo Correa enumerar pela voz  fluente do Ver. Lauro Hagemann os inúmeros fundadores do nosso “CTG 35”, não pude, Vera. Anamaria Negroni, deixar de ter uma ponta de orgulho ao ver nominados entre seus fundadores quatro jovens que, como eu, nasceram nas barrancas do Rio Quaraí, a seiscentos quilômetros desta Cidade. Ver lembrar a presença do Carlos Godinho Correa, do Guilherme Flores da Cunha Correi, do Paulo Emílio Godinho Correa, e do nosso saudoso Hélio Gomes Leal, na fundação do “CTG 35”,dá para mim, como barbicacho e quariense, a certeza e a convicção de que a minha Cidade, desde aquela época, estava presente, vigilante no culto às tradições gloriosas que a partir de 35 fazem o apanágio da gente do Rio Grande.

Jovem, muito jovem,  provavelmente influenciado por esses nomes a que me referi, acreditei numa posição política que tinha como bandeira e como divisa a afirmação de que o preço da liberdade era eterna vigilância. Desde lá, Paulo, eu tenho conjeturado sobre essas circunstâncias. E sei que, quando estamos, hoje, acentuando o valor, a importância, o significado da fundação do 35, estamos mais do que agradecidos pelo resgate da nossa cultura e dos nossos costumes como o hábito do chimarrão, do uso da bombacha, do chapéu de abas largas com o barbicacho preso no queixo, e mais do que isso estamos agradecidos aos fundadores do 35 e daqueles que continuaram sua obra por terem resgatado os nossos compromissos com este País da liberdade, da igualdade, e da fraternidade.

Por isso, não poderia calar, Ver. Elói Guimarães, nesta tarde. Sei que não trago nenhum brilho e nenhuma contribuição expressiva para esta solenidade, mas na minha vida, companheiro Orlando Degrazzi, nunca omissão foi uma característica. Então eu quero, nesta hora, mesmo sem briga, mas com muito coração e muita sinceridade reverenciar a quantos tiveram esta iniciativa tão feliz, tão fértil e tão conseqüente.

Hoje, como bem afirmam aqueles que me antecederam, o cetegismo, nova expressão do dicionário como nos informa o Ver. Lauro Hagemann, chega a todos os quadrantes deste País. São dois mil CTGs espalhados por todos os cantos do Rio Grande. Nós gaúchos, quando daqui nos afastamos, temos a alegria de saber que em algum lugar se houve uma gaita, que em algum lugar se declama verso, que se come churrasco e que se toma chimarrão. O Ver. Elói Guimarães que comigo esteve há alguns anos na cidade de Vitória, Espírito Santo, é uma das minhas testemunhas dessa situação  tão peculiar e tão agradável para nós sabermos que em qualquer ponto do Brasil há um cantinho do Rio Grande.

Então, saudar o “35”, saudar o início dessa jornada, dessa epopéia, dessa cruzada, é reafirmar os valores do Rio Grande, especialmente, porque lembramos que, no longínquo 48, as coisas não eram tão tranqüilas na  afirmação regional, como são nos dias de hoje. Nós vimos um período em que se buscava abafar as manifestações regionais, em que os símbolos dos Estados, a própria bandeira do Rio Grande havia sido queimada em praça pública, porque assim se pretendia criar um falso nacionalismo. Nacionalismo que nós, rio-grandenses, gaúchos, não precisamos que ninguém nos imponha por determinação legal, para nós é uma convicção íntima. É como afirmou o Ver. Elói Guimarães, é uma decorrência do nosso desejo de sermos gaúchos e brasileiros porque, sendo assim, estamos absolutamente em consonância com os ideais, com os objetivos, com os propósitos e com a vocação libertária que foram, com sangue, acentuadas as coxilhas do Rio Grande.

O “CTG 35” representa tudo isso, Benfato. Em ti, que homenageio todos os patrões que, ao longo do tempo, estiveram conduzindo o nosso “35”. Em ti, afirmo e reafirmo esta importância tão esplendorosa de termos, um dia, uma plêiade de jovens dispostos e resolutos, terem se decidido por esta caminhada que não tem mais fim. Aquilo que estava amortecido e que seus ancestrais, no 35, reviveram, jamais será apagado, porque não se apaga o sentimento do gaúcho. Este gaúcho, que o Marco Aurélio Campos, meu amigo de infância afirmava, numa definição esplendorosa, quando diz: “Sou pó que se levanta, sou terra, sangue e sou verso, sou maior que história grega, sou gaúcho e me chega para ser feliz no Universo”. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Assistiremos, agora, a uma apresentação do Grupo Juvenil  de Danças Tradicionais do “35 CTG”.

 

(É realizada a apresentação.)

 

O SR. PRESIDENTE: Esta Casa só pode agradecer esta grande oportunidade que temos, todos os presentes, mas principalmente nós Vereadores, que não estamos acostumados a participar dos CTGs e dos eventos, onde grupos como esse se apresentam com tal brilhantismo. Agradecemos a todos do “35 CTG’ que nos deram esta oportunidade.

O Sr. Ivo Benfatto está com a palavra para falar em nome do CTG.

 

O SR. IVO BENFATTO: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Senhoras Vereadoras, Senhores Vereadores, companheiros fundadores do “35 CTG”, aqui presentes, a quem, com muito orgulho, reverencio, companheiro Valdir  Secchi, nosso Coordenador Regional; companheiros tradicionalista integrantes do nosso Conselho de Vaqueanos; Davison Labrea, Presidente do nosso Conselho; minha gurizada da invernada juvenil; tradicionalistas companheiros de causa. Eu gostaria de dirigir minhas primeiras palavras ao Ver. Lauro Hagemann, pela oportunidade que dá ao “35”, de estarmos nesta tarde/noite sendo homenageados pela passagem dos seus 50 Anos. Pessoalmente, eu agradeço ao Vereador por ter dado a mim o conhecimento de que eu tenho condições de extrapolar o conteúdo físico do meu corpo, para poder encharcar-me de orgulho por representar, neste momento, 50 anos de história e, assim, receber as homenagens prestadas. Dirijo-me aos Oradores que falaram por suas Bancadas, ao Ver. José Valdir, pelo PT; ao Ver. Elói Guimarães, pelo PDT; ao Ver. João Carlos Nedel, pelo PPB; à Vera. Anamaria Negroni, nossa gaúcha, pelo  PSDB; ao Ver. Reginaldo Pujol, pelo PFL. Companheiros, quando eu estava ali e ouvia as manifestações, a cada um que terminava, eu mudava o meu discurso, e eu vinha proposto a falar de improviso, para falar com o coração e não com a razão. Eu tinha, mais ou menos, uma idéia do que faria no meu discurso, e ele ficou cada vez menor, e quase que se resume em tão-somente a uma das palavras que vai direto ao coração: obrigado. Mas eu não posso me furtar à oportunidade de dizer bem mais do que obrigado àqueles que estiveram nesta tribuna, eu quero dizer, como porto-alegrense, “Obrigado Porto Alegre por seres Porto Alegre”. E vou lhes dizer por quê: nesta nossa Porto Alegre foi criada, na década de 40, um sonho, uma ilusão que se tornou realidade, o Jornalista Túlio De Rose criou o “Fogo Simbólico da Pátria” e sua corrida de Viamão a Porto Alegre, na primeira edição, tinha como objetivo sempre ser acesa em qualquer lugar, mas a chegada do “Fogo Simbólico da Pátria” seria sempre em Porto Alegre, no nosso dia 7 de Setembro, pela sua proposição.

Em 1947 a Liga de Defesa Nacional no seu planejamento houve por bem retirar o “Fogo Simbólico da Pátria” do Cemitério de Pistóia. Haveria de ser homenageado, em 1947, um bravo brasileiro, um herói farrapo David Canabarro, cujos restos mortais eram transladados para o Panteon dos Heróis da Santa Casa de Misericórdia, aqui na nossa Porto Alegre. Paixão Cortes, não vou fazer um resumo histórico dos mais alongados, Paixão Cortes, e não poderia ser diferente, de dentro de um Colégio, vendo o que acontecia no pós guerra, em que novos mercados consumidores teriam que ser abertos para dar emprego àqueles que voltavam do “front”  e para que esses mercados consumidores tivessem realmente o objetivo almejado precisava que a cultura regional, os hábitos regionais estivessem em segundo plano, outras cidades necessitavam serem criadas. E assim, como bem dizem o Lessa e o Paixão: “o mate gelado da Rua da Praia, em pouquinho tempo, foi substituído pela Coca Cola”. O ambiente daquela época era bastante propício, como foi dito aqui anteriormente, vínhamos do Estado Novo, onde o poder centralizado fazia com que o regional ficasse também em segundo plano. Tudo indicava que o regional não teria mais vez. Mas vejam: o todo sempre é feito de partes. O Brasil é feito de seus Estados, como o Estado é feito de seus Municípios, como os Municípios são feitos pelos seus cidadãos. Paixão Cortes e os seus companheiros de 47 somados, e aqui gostaria de reverenciar os integrantes da Patrulha do Quero-Quero, Escoteiros do Mar, que logo se transformaria em Estância do Quero-Quero, uniram-se ao grupo do Julinho e quiseram fazer um ponto de resistência à encucação cultural que naquela época era das mais violentas. Surge assim o “35”, debaixo para cima, não de cima para baixo, do vigor do sangue da nossa estudantada. Da nossa gurizada surgiu o “35”. Mas, Porto Alegre, Presidente, se o coração tem um centro, talvez, seja este o centro do coração, porque neste ano, aqui em Porto Alegre, estaremos comemorando o centenário do Grêmio Gaúcho de Cezimbra Jacques, patrono do Movimento Tradicionalista Gaúcho, homem de Santa Maria que veio para Porto Alegre e aqui, não encontrando o que lá deixara, fundou o Grêmio Gaúcho Porto Alegre.

Neste momento estou escolhendo as palavras que brotam do coração para que sejam entendidas porque, como porto-alegrense, quis o destino que, neste ano do cinqüentenário, estivesse à frente do “35 CTG” um porto-alegrense, um citadino, alguém que nasceu na Rua da Azenha, em frente ao cinema Castelo a alguns passos do local histórico da Batalha da Azenha que deu início à Revolução Farroupilha. Essas coisas todas só podem ser planejadas por alguém muito superior a nós. Não é à toa  que, contrariando toda a destinação geográfica dos terrenos das áreas, nós somos brasileiros, e porque não é à toa e por quê? Não é à toa que o nosso Rio Grande se assemelha a um coração. Não pode ser à toa, Nico. Nós temos um destino - e foi muito bem dito aqui - , um futuro promissor. Não somos deslumbrados. Nós sabemos e temos o pé muito bem assentado na nossa história. Mas a nossa mente e visão é futuro. Tanto que, há três anos, em todos os nossos documentos nós colocamos, com consciência tradicionalista, rumo ao terceiro milênio.

Buscamos sempre no passado os bons exemplos, mas não desconhecemos o que foi feito de bem ou de bom, para não repeti-lo. Coisa boa! Excelente! Vejam que terra abençoada! Quantos anos de história tem o povo grego? Quantos anos de história tem a velha Europa? Quantos anos de história tem a América? O Brasil está a comemorar 500 anos. O Rio Grande do Sul fez a sua história em pouco mais de 250 anos. Nós começamos a marcar a nossa lusitanidade com a fundação do Forte Jesus Maria José, em 1737 - eu não sou professor de Historia, mas é isso? São 260 anos de História! Pois nesses 260 anos de história acorreram para cá  e se irmanaram com os que já estavam, o que tinha de melhor. Os nossos imigrantes! Pensemos nos nossos sobrenomes, vamos ver que somos uma colcha de retalhos. São 260 anos de História do Estado, quando, na sua maior parte, nós estávamos como uma ilha dentro do Território Nacional. Bem como uma ilha porque só se conseguia ir à Corte ou ao centro da República, saindo do porto de Porto Alegre, indo a Rio Grande e, por mar, chegar ao Rio de Janeiro. Benditos sejam aqueles que nos deixaram por algum tempo isolados. Deram-nos tempo de nos formarmos e de juntarmos culturas, de juntarmos valores e os valores que nos trouxeram chamavam-se: trabalho, família, honestidade, fraternidade, confraternização, foi isso que veio nas mãos calejadas de italianos, alemães, poloneses, do negro, do índio diferenciado. Aqui não poderia ser diferente neste Estado coração, se formou a opção histórica pela sua lusitanidade. Vamos ver o mapa do Brasil, nós somos um enclave dentro da civilização espanhola, contrariando tudo aquilo que se pode fazer se tomar como conhecimento. Esse é o nosso Rio Grande do Sul. Dá raiva! E, nesta tribuna mesmo, um dia viemos, alguns anos atrás, e aqui dizíamos, quando estava no apogeu a história ridícula do separatismo, aqui nós afirmamos: “Jamais, jamais o homem gaúcho de hoje vai desonrar o seu passado, a sua história.” Porque eles fizeram opção por nós e nós não seremos dignos de toda essa sua herança e ousarmos pensar um dia retirar do nosso peito a nossa condição de brasileiros, haja vista que está na nossa bandeira tricolor do Estado as cores nacionais brasileiras, o verde-amarelo e não a separar, mas a unir, o vermelho de desejo, de República, de Federação, de União. Nós gaúchos somos, antes de gaúchos, brasileiros por que não podemos sê-lo de forma diferente, assim nos ensinaram nossos avós e nossa responsabilidade por ensinarmos nossos filhos para que os seus filhos passem aos seus filhos a mensagem de amor uns aos outros pelo lugar onde nascemos, por este gigante chamado Brasil. Muito obrigado à minha Cidade, muito obrigado companheiro, amigo, porque quem teve a iniciativa pode ser dito assim, amigo Lauro Hagemann pela iniciativa. Muito obrigado a todos que aqui estiveram, nesta homenagem e, para finalizar gostaria de dizer uma coisa: É falso dizer os tradicionalistas, e os não tradicionalistas. Como foi dito aqui, se atravessarmos o Manpituba ou o Pelotas, no outro momento nós já  começamos a querer cantar “Negrinho do Pastoreio”, buscar a letra, ou sintonizar a Rádio Gaúcha, a Rádio Farroupilha, as nossas rádios. E graças a Deus, agora, já  estamos na Internet, fica mais fácil. Então, é falso dizer quem é tradicionalista, quem não é. Nós somos gaúchos, pilchados ou não, mal-pilchados ou não. Quem se pilcha mal, porque não conhece, se conhecer, ele vai se pilchar adequadamente. Mas dentro deles, homens e mulheres, dentro de nós todos, pulsa uma coisa chamada terra, pulsa uma coisa chamada reconhecimento, agradecimento pelo que nos está  sendo entregue. Homens e mulheres, a nossa História não foi feita só por homens, se os homens a fizeram é porque tinham mulheres ao seu lado. E assim, meus amigos , não vou me estender. Eu gostaria de dizer por final o que nós temos de mais nobre no “35 CTG”, em qualquer chão, sempre gaúcho, pelo Rio Grande e pelo Brasil. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Não poderia ser diferente, as palavras do Sr. Ivo Benfatto foram realmente maravilhosas, foi realmente um fecho magnífico para esta Sessão. Mas eu também não poderia deixa de fazer referência a que os oradores, que representaram esta Câmara Municipal, que geralmente são excelentes oradores, hoje se superaram, eu acredito que a motivação dessa Sessão, do tema que está aqui proposto, realmente fez com que eles pudessem inspirar-se muito mais. E mesmo que tivessem ultrapassado sempre os tempos normais regimentais que estavam marcados ninguém sentiu porque eles foram exuberantes, começando pelo Ver. Lauro Hagemann, proponente e o Ver. José Valdir, que muito tem ensinado por sua poesia, que hoje transmitiu também aquilo que ele conhece acerca do tradicionalismo, e tenho certeza que todos gostaram, passando pela Anamaria que como eu não nasceu aqui, mas nos sentimos perfeitamente integrados ao Rio Grande do Sul, o meu amigo Elói Guimarães, amigo Reginaldo Pujol, todos que representaram esta Casa foram oradores brilhantes.

Numa Sessão como essa não poderíamos ter fecho melhor do que o que iremos ter. Sempre abrimos as nossas solenidades com o Hino Nacional e fechamos com o Hino Rio-grandense. Pedimos a nossa técnica que rode a fita e nós aqui cantamos, mas hoje teremos uma voz maravilhosa, que estamos acostumados a ouvir através dos discos, na televisão, no rádio e que todos gostamos, principalmente agora que ela vai cantar para nós o Hino Rio-grandense. Convidamos a nossa querida Marlene Pastro para que possa fazer esta homenagem, cantando o Hino Rio-grandense.

 

(Marlene Pastro canta o Hino Rio-grandense.)

 

O SR. PRESDIENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h30min.)

 

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